Ser Maçon – A Arte Da Busca

Por Domingos Pascoal

A minha primeira tentativa de ingressar na maçonaria aconteceu em 1974, no Rio de Janeiro.

Eu era um dublê de garçom e jornalista, (freelance ou foca), como era conhecido quem iniciava na lide jornalística naquele tempo.

Morava na rua do Lavradio, nº 122, quase em frente ao Palácio Maçônico do Grande Oriente do Brasil o que, de certa forma, contribuiu para que eu fizesse esta tentativa ali mesmo, numa das lojas que funcionavam naquele suntuoso Castelo.

Todavia, logo em seguida, maio de 1975, as coisas mudaram, tive que voltar para o Ceará, o que inviabilizou, assim, o prosseguimento do processo para ingressar numa loja do Rio de Janeiro.

Através da pessoa que me indicou, fiz as comunicações devidas e voltei a minha terra.

Somente em 1976, já morando em Fortaleza, dei entrada novamente e fui iniciado em março de 1977.

Era um sonho que se tornava realidade, eu estava muito feliz e cheio de dúvidas, pois tudo o que eu conhecia de maçonaria, por curiosidade ou ouvir dizer antes de iniciar, não era nada.

Mesmo com aquela angústia da dúvida, atrevi-me prosseguir e, no dia 29 de março de 1977, uma terça feira, vi, pela primeira vez, um farol a iluminar meu futuro.

Para a minha alegria, com o passar do tempo, fui verificando que todas as expectativas e dúvidas que eu alimentava estavam sendo ultrapassadas.

 À proporção que subia a escada, degrau a degrau, ia desvendando a beleza que é a proposta da Sublime Ordem Maçônica: a Deus, a Pátria, a Família, às Virtudes da Harmonia, da Amizade e, da Verdade.

Mesmo ciente de que eram valores que, provavelmente eu já os possuía. Todavia, com certeza, eu não sabia que os tinha, e esta simples amostragem, para mim, já compensaria todos os embates da injustiça sobre a justiça, do falso sobre o verdadeiro, do ódio sobre o amor que, ordinariamente também encontrei na caminhada, posto que os caminheiros que comigo andaram e, andam ainda, fazem parte da única espécie que erra conscientemente, somos humanos.

Nesse caminhar, fui entendendo que, na Maçonaria, não se ensina, só se aprende, é o exemplo e a boa vontade que contam.

E aprendi, também, que a minha trajetória maçônica seria do tamanho e da importância que eu desse a ela. Esta compreensão levou-me a encontrar o ponto de inflexão da minha existência, vislumbrando aí a possibilidades de ser e fazer a diferença na vida que se descortinava a frente.

Todas essas ideias, carregadas de significados, chegavam-me aos poucos e iam reconstruindo o meu Templo interior, tornando-me maior, melhor e mais humano.

Tudo isso chegou em boa hora, havia casado há poucos meses, setembro de 1976, havia sido aprovado em dois vestibulares: administração e Filosofia e peregrinava na vida laborando entre um emprego de vendedor nas Lojas Friolar e, a dirigir um taxi para completar a renda.

Aquela realidade levou-me a acreditar, e não me enganei, que havia acertado: eu estava onde realmente deveria estar.

Entrar para a maçonaria foi, sem dúvidas, um dos melhores passos que dei nos meus 27 anos de existência.

Disse um dos passos mais acertados, pois o primeiro e melhor passo que dei, foi o de, após 10 anos de namoro, ter casado com Maria das Graças Monteiro, minha atual esposa, sete meses antes da minha iniciação.

A partir de então comecei a entender o que significava a lógica e retidão do esquadro, do compasso e do prumo na busca da egrégora perfeita, como força espiritual geradora de energias vitais na manutenção dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.

Percebi também que o melhor local para encontrar a minha felicidade era na felicidade do outro e, que a busca permanente é o equilíbrio entre a unidade e a diversidade.

Aos poucos, fui entendendo a harmonia perfeita proclamada no salmo 133, e percebendo que ali estava a energia concentrada que gera a força de coesão e mantém o grupo unido, apesar, não importa, da nítida consciência ou não, rumo ao Uno Sagrado presente na Divindade onde Pai, Filho e Espírito Santo, são um só, que é Deus – O Grande Arquiteto do Universo.

Hoje, já existem elementos para concluir que o sonho rumo ao uno divinal é, apenas sonho mesmo e, que nele devemos permanecer, pois o que conta é a esperança da busca, somos pobres humanos imperfeitos, temos que entender que para toda tese sempre haverá uma antítese geradora do movimento para que a roda da vida gire.

Por isso não é mais de se ignorar o fato de que na Maçonaria, infelizmente, são encontrados maçons, com “m” minúsculo, que usam avental mas não laboram na senda da lapidação da sua pedra bruta e, também irmãos que nasceram e se educaram maçom, sem nem saber que maçonaria existia que, mesmo profanamente, mereciam usar a nossa indumentária de trabalho.

Talvez por isso, seja justificável ficarmos sempre na busca, pois a perfeição é divinal e inatingível.

Para nós, o que conta é o a busca do Uno perfeito que é Deus, para nós, o Grande Arquiteto do Universo. Que assim seja. Que a busca continue!

Domingos Pascoal é Acadêmico, Professor, Escritor, jornalista e Membro efetivo e vitalício da Academia Sergipana de Letras

Domingos Pascoal

Acadêmico, Professor, Escritor e jornalista. Estudou filosofia e ciências Jurídicas, pós-graduado em gestão estratégica de pessoas. Membro efetivo e vitalício da Academia Sergipana de Letras e outras academias, colaborador e organizador de movimentos literários: academias, encontros, antologias, concursos, feiras, bienais.

Foto: Ilustração