NÃO SABIA, não ouvira falar, nenhuma leitura anterior sobre a pessoa, apesar de amar Sergipe, sua gente e suas tradições. Confesso-me comedor de tapioca, ‘saroio e marcasado’; aventuro-me, vez por outra, visitando Fausto Cardoso, Tobias Barreto, Hermes Fontes, Manoel Bomfim… Temos hoje Terezinha Oliva, Ibarê Dantas, Maria Thetis Nunes, Aglaé Alencar. Mas, sobre esse sergipano que se mandou para Rio Grande do Sul e construiu relevante obra jornalística, maçônica e literária, ou seja, Francisco Antonio Vieira Caldas Júnior, só agora tive conhecimento, com plena alegria. Falha minha, reconheço. Quantos dirão o mesmo?
NÃO SOU, ainda, chegado aos smartphone, tablet, whattsapp, e-book. Nada contra o progresso, Internet, facebook e computadores. Sou mui vidrado em jornal e revistas, livros, palestras e bate-papo. Daí, eis que vi numa matéria da revista “O DELTA”, publicação do Grande Oriente do Rio Grande do Sul, renomada e centenária potência maçônica gaúcha, algo sobre o famoso (lá, no extremo sul do Brasil) sergipano Caldas Júnior, resolvendo trazer o assunto para nosso JORNAL DA CIDADE.
A MATÉRIA “Um Maçom das Palavras” atraiu minha atenção, logo após interessado ao ler: “O sergipano Francisco Antonio Vieira Caldas Júnior…”, pois o nome remetia ao Santo Francisco, símbolo de amor e caridade; ao padre, pregador e escritor Antonio Vieira, e Caldas Júnior lembrava a organização jornalística que é marco da imprensa gaúcha. Também lembrava o velho Chico, rio da novela, das estórias, carrancas e tradições.
FALEMOS do sergipano que pontificou no Rio Grande do Sul. Nasceu em Neópolis, Sergipe, em 13.12.1868, um Dia de Santa Luzia. Desencarnou em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, em 9.4.1913, com apenas 45 anos. Casou duas vezes, teve seis filhos. Registrou em curta existência uma trajetória de boas realizações.
FRANCISCO Antonio Vieira Caldas Júnior foi escritor, jornalista, Maçom atuante; participou de muitas campanhas beneficentes, praticando filantropia sem esperar benefícios próprios. Escreveu poesias, artigos para jornais (começou no Jornal A REFORMA e passou pelo JORNAL DO COMERCIO). Empenhou-se na fundação da Academia Rio-grandense de Letras, instalada em 1902.
SUA ÉPOCA está associada à história política do Rio Grande do Sul com Júlio de Castilhos, Pinheiro Machado, Gumercindo Saraiva, Silveira Martins, tempos de enfrentamento entre Maragatos (lenços vermelhos) e Pica-paus (lenços brancos). Procurou conciliação entre os litigantes pregando a paz, o entendimento. Na condição de Maçom convicto, homem de família e jornalista militante, Caldas Júnior abraçou o histórico lema de “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”, proclamado desde 1789 na França pela Maçonaria, como seu guia de vida e atividades cotidianas.
NO JORNALISMO, fundou o jornal CORREIO DO POVO em 1895, tornado carro-chefe de marcante conglomerado de imprensa gaúcha. Seu jornal, ao lado do O GLOBO (Irineu Marinho), O ESTADO DE SÃO PAULO (Julio de Mesquita), A TARDE (Simões Filho), DIÁRIO DE PERNAMBUCO (Assis Chateaubriand) e outros jornais são marcos da imprensa brasileira. E dizer que foi fundado por um sergipano das terras de Neópolis!
QUANDO Caldas Júnior desencarnou, seu corpo foi reverenciado dentro da Catedral Metropolitada de Porto Alegre, em ato religioso sob os cuidados de Monsenhor Otaviano de Albuquerque, numa demonstração de apreço e respeito ao grande homem público, que apesar de ser Maçom estava num templo católico. Não havia, nem deveria haver hoje em dia, o preconceito contra a Maçonaria.
ATUALMENTE, existem escolas públicas com o nome de Caldas Júnior em Caxias do Sul e Novo Hamburgo; há colégio estadual de ensino fundamental em Porto Alegre. Colocaram seu busto em bronze na Praça da Alfândega, em Porto Alegre; o Palácio Maçônico denominou um local “Templo Nobre Caldas Júnior”; a rua do Correio do Povo tem o nome de seu fundador. Não há dúvidas de que nosso conterrâneo era querido e respeitado nas terras gaúchas. Em Sergipe, espero achar alguma homenagem, apesar de ele ter vivido sua vida fora do Estado. Em Neópolis existe um Colégio Estadual Caldas Júnior, na Avenida Dom José Tomaz, 509, mas nada encontrei em outra localidade, especialmente Aracaju. “Ninguem é honrado na própria terra”, aponta o ensino bíblico em Mateus 13:57, e Sergipe precisa ter na lembrança nomes como o de Caldas Junior ou de Manoel Bomfim.
HÁ UM EPISÓDIO na vida de Caldas Júnior a requerer pesquisa e estudo: seu pai, Francisco Antonio Vieira Caldas, nascido em Sergipe, que foi juiz em Santo Antonio da Patrulha, RS, foi fuzilado em 1894, enquanto era prisioneiro na Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim, no Município governador Celso Ramos, em Santa Catarina. Foi considerado rebelde ao lado de outros próceres contrários ao governo de Floriano Peixoto. O coronel Moreira Cesar, no comando da citada fortaleza, ordenou o fuzilamento de dezenas de pessoas, incluindo o ex-Chefe de Polícia e ex-Juiz, pai do Jornalista e nosso Irmão Caldas Júnior.
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Osvaldo Novaes – Maçom. Espírita. Escritor. Membro da Academia Maçônica Sergipana de Artes, Ciências e Letras. osvaldonovaes_adv@yahoo.com
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